Aos poucos, o jogador se habitua ao time que parece caminhar rumo ao
título nacional. E começa a melhorá-lo, como mostraram os dois gols
feitos na vitória de 3 a 0 sobre o Botafogo.
Assim, complementa os objetivos que nortearam seu retorno: o desejo de
fazer sucesso em casa e se permitir sonhar com a Copa do Mundo de 2014.
Na entrevista abaixo, o jogador analisa seus primeiros passos no
Cruzeiro, fala sobre a expectativa de título no clube mineiro e faz um
balanço de sua passagem pela Europa. Ele diz que ainda é cedo para
pensar em ser campeão, mas pede aos torcedores: "Estejam na mesma
sintonia que nós".
Você passou aproximadamente dez anos no futebol europeu e agora
retornou ao Brasil. Encontrou uma realidade diferente daquela de uma
década atrás ou acha que mudou pouco?
Teve uma melhora, sim. Até o jogador começa a enxergar o futebol
diferente. Muitos times daqui jogam num sistema, numa formação, que se
joga na Europa. Alguns cumprem mais a função tática atualmente. Com
isso, o futebol acaba crescendo. Mas sempre fomos preocupados com a
parte de fisioterapia, de fisiologia, até pelo calendário que temos.
Temos até mais preocupação do que os europeus com isso.
Com cerca de dois meses no futebol brasileiro, você integra um
elenco mais do que líder: muito líder. Já são sete pontos de vantagem
sobre o vice, com oito vitórias seguidas no campeonato. Por que o
Cruzeiro está tão bem?
São muitos fatores. O treinador encontrou uma forma de o time jogar.
Quem entra sabe a função que tem que desempenhar. É fácil para todos.
Todos fazemos os mesmos esforços. O time corre junto. Os esforços são
iguais. Ninguém faz um esforço sobrenatural. O time cria muitas
possibilidades de gol, faz muitos gols. E temos tomado menos gols.
O título está próximo?
Não acho. Eu acredito no trabalho diário. Acredito no jogo a jogo. Se a
gente seguir nessa linha, tem muita possibilidade de ganhar. Mas tem
muito pela frente. Muitas coisas vão acontecer. A torcida até pode ter
uma euforia, mas aqui dentro, não. Cada jogo é muito difícil. Temos
consciência disso.
Quem pode ameaçar o título?
Os quatro ou cinco times abaixo de nós vão incomodar, vão ganhar jogos.
Tem o Botafogo, claro, mas também o Grêmio, o Atlético-PR. Eles vão
brigar.
Como estão sendo esses primeiros meses no Cruzeiro?
Ótimos. Tudo ajuda, né? Facilita o fato de vir para uma equipe em que
tudo funciona. O ambiente é muito bom. As coisas funcionam bem.
Você ainda não conseguiu virar titular absoluto, mas fez dois
gols no último jogo. Está tranquilo em relação a isso ou é algo que
incomoda?
É natural. Vim de um campeonato que começou agora. Aqui, está na metade
da temporada. O pessoal aqui está em um nível melhor fisicamente. Em
breve, tudo vai acontecer naturalmente. Existem muitos jogadores de
qualidade no elenco do Cruzeiro. O treinador tem uma variedade. Eu, que
joguei na Europa, aprendi que esse negócio de titular absoluto não
existe. Eles fazem a rotação com os jogadores, até para evitar lesões,
para dividir minutos. Aí o plantel não fica sobrecarregado.
E o que espera do próximo jogo? É fora de casa, contra o
Corinthians, o que sempre é complicado, mas o Corinthians vive fase
muito ruim.
Daqui para a frente, não tem jogo fácil. É incrível o futebol
brasileiro... O Corinthians foi campeão da Libertadores, do mundo,
ganhou tudo. Agora não está numa fase tão boa, mas é um grande time. A
gente sabe a dificuldade de ganhar de qualquer time. Seguiremos na nossa
linha.
Você é formado no São Paulo. Tem algum significado particular enfrentar o Corinthians em um jogo tão importante?
É indiferente para mim. É uma coisa natural. Não tem nada a ver. Minha briga é pelo Cruzeiro.
Como você viu essa situação do São Paulo, ameaçado de rebaixamento, mas agora em recuperação?
Às vezes, acontece. O São paulo cresceu no momento exato e pode até brigar pelas primeiras colocações.
Falando em São Paulo, você jogou com o Kaká no Morumbi e
conhece muito bem o futebol europeu. Acha que ele fez bem em voltar pro
Milan?
Acho que sim. É um time onde ele conquistou tudo. No Real Madrid,
existe uma pressão muito forte. Quando o jogador não consegue
desempenhar bem, acaba sendo complicado, porque a pressão é grande.
Eu não vivi isso. Já estava no Sevilla antes de ir pro Real. Aí não
cheguei com essa pressão. O dificil foi ter tido três treinadores em um
ano...
Você teve uma passagem sólida pela Europa. Qual momento você pode destacar como o mais positivo?
Sem dúvida, as passagens no Sevilla e no Real Madrid. Foram os melhores
momentos, mas não que não tenha feito boas atuações em outros clubes. A
última passagem, pelo Málaga, foi impressionante para mim. Tive algumas
lesões, mas foi uma passagem incrível. O time estava muito mal quando
cheguei, podendo cair. Consegui, se não me engano, fazer nove gols em
dez jogos, ajudando o time a não ser rebaixado. Depois, conseguimos
classificar para a Liga dos Campeões. Existe um carinho por todos onde
passei. Mas se tem que destacar, destaco esses dois.
Algum arrependimento nesses dez anos de Europa? Alguma escolha que foi errada?
Nenhuma. Tudo valeu a pena. Foram experiências boas, que me ajudaram a
crescer profissionalmente. Passei por três ligas diferentes, e isso
ajuda bastante o jogador.
Por tudo que você viu na Europa nesses dez anos, quem chegará forte para a Copa do ano que vem?
Ah, sempre as favoritas: a Itália, a Alemanha... Acredito que a
Argentina chega forte. Mais a França, a Espanha. São todas seleções com
potencial.
Por que você voltou ao Brasil?
Joguei muito pouco aqui. Não consegui mostrar meu futebol no Brasil.
Escrevi toda minha história na Europa. Queria jogar um pouco aqui. O
Cruzeiro entrou em contato com meu empresário, iniciou-se uma conversa, e
o Cruzeiro mostrou um projeto que me agradou. É um projeto para ganhar
títulos, para fazer um time vencedor.
Ainda tem esperanças de Seleção?
Depende do que vai acontecer. Se eu apresentar um futebol muito forte,
há uma possibilidade de ser lembrado. O jogador tem que ser movido por
alguma coisa, ou não funciona. É uma motivação minha: jogar bem, ter um
caminho a seguir. Também foi um fator que eu considerei para voltar ao
Brasil.
A perda da Copa de 2010 ainda machuca?
Machuca. Mas a gente tem que viver do presente. Serve como experiência.
O futebol é assim. É por isso que ele move tanto a paixão. Você acha
que vai ganhar, e um time que não está melhor que você vai lá e vence.
No futebol, você tem que ter respeito sempre. Em cinco minutos, você
perde um título.
Você era um homem de confiança do Dunga. Depois da Copa, com a troca no comando, deixou de ser chamado. O que pensa disso?
Não foi só comigo. Foi com quase todos os jogadores. O Maicon foi
chamado depois de dois anos. Eu defendi a seleção durante sete, oito
anos. Poucos jogadores acabaram voltando para a Seleção. O futebol é
assim: ele muda constantemente.
Por fim, que recado você pode deixar à torcida do Cruzeiro, que já vive forte expectativa pelo título?
Estejam na mesma sintonia que nós. Vamos fazer de tudo para dar essa
alegria à torcida. Temos certeza de que todos queremos o mesmo, como uma
coisa única. Vamos procurar buscar isso como fonte de inspiração para
nós. Será uma coisa impressionante. Vamos tentar alegrar essa cidade.
FONTE: GLOBOESPORTE
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