Foram exatos 298 dias desde a última entrevista como presidente do
Cruzeiro, depois da histórica goleada por 6 a 1 sobre o Atlético, em
dezembro do ano passado. O senador da república Zezé Perrella agora se
dedica exclusivamente à política. Residente em Brasília, o cartola
visita Belo Horizonte praticamente toda semana. Na atual estada na
capital mineira, Perrella atendeu à reportagem do Superesportes e, depois de certa resistência – “não falo mais sobre futebol” – rompeu
o silêncio e avaliou a gestão Gilvan, confessou que pode interceder
pelo retorno de Alex à Toca e não abandonou o estilo irreverente ao
alfinetar o rival Atlético. A entrevista completa você acompanha abaixo.
Como você avalia a gestão do seu sucessor Gilvan de Pinho Tavares?
Eu
não quero comentar sobre isso. Eu larguei o futebol completamente e não
tem como eu falar como torcedor, vão sempre me julgar como alguém que
está se metendo, então eu quero me manter Afastado e deixar a diretoria
trabalhar. Prefiro não falar nada.
Falemos então sobre a sua gestão. É nítido que você entregou o clube sem dinheiro em caixa, fator preponderante para a crise financeira nesta temporada. Por que isso aconteceu?
O
que eu sempre fiz a vida inteira foi vender jogadores para que o
Cruzeiro não atrasasse salários. Eu sempre vendi. A nova diretoria teve
boas propostas pelo Montillo e optaram por segurá-lo. Naquela época, eu
defendi o tempo inteiro a venda do Montillo para que não houvesse o
atraso de salários. Se tivessem negociado, os atrasos não teriam
ocorrido. Não estou criticando, eu respeito o trabalho da diretoria, mas
os atrasos de salário este ano ocorreram em função da permanência do
Montillo, foi uma opção da diretoria. Disseram que o Montillo seria o
carro chefe de um projeto de sócio-torcedor, eu respeito essa opção. Eu
nunca vendi jogadores porque achava bonito, eu vendia porque eu tinha
que vender para que os atrasos não acontecessem. Dinheiro nunca foi
fácil no futebol. Eu tinha um jeito de dirigir vendendo atletas. Vendi o
Fred para não atrasar salários, vendi Ramires para não atrasar salários
e assim eu tocava o Cruzeiro. Eu respeito a maneira com que cada um
toca. Do meu jeito eu nunca atrasei salário, não estou criticando a nova
diretoria, mas só aconteceu porque não venderam o Montillo.
Então se você estivesse na presidência a atual temporada teria sido diferente, mesmo com a rejeição da torcida ao seu estilo de administração?
Sempre fui criticado pela torcida por
isso, era meu jeito de administrar, cada um tem o seu. Eu respeito a
nova diretoria, mas o Cruzeiro está entre os quatro clubes mais estáveis
do país por causa da minha política de clube vendedor. Se você levantar
a dívida dos 20 clubes da Série A você vai ver que o Cruzeiro ainda
está entre os quatro ou cinco com menor dívida do Brasil. O que eu tenho
a dizer é isso. Com essa política de vender eu era criticado como
mercantilista, mas foi com ela que ganhei 23 títulos e sempre mantive
salários em dia. Esses torcedores que me criticavam podem ficar
despreocupados que eu jamais vou voltar, minha vida está muito
tranquila.
Você diz isso para cutucar seus críticos, mas se houvesse uma oportunidade interessante para voltar a ajudar o Cruzeiro você voltaria a participar da vida do clube?
Não
tenho a menor pretensão de voltar, já dei minha cota de contribuição e
sacrifício, não volto mais, nem em outro cargo, nem em outra situação,
de jeito nenhum. Agora quero ser só torcedor do Cruzeiro e conselheiro.
Minha vida está muito tranquila, já me sacrifiquei demais pelo clube.
Nem como parceiro patrocinador em uma eventual contratação de Alex?
Eu
não quero participar como investidor e nem acho que meu papel é este no
atual momento. Quando eu saí do Cruzeiro, me coloquei à disposição para
ajudar, então se a diretoria pensar que eu posso ajudar de alguma
maneira conversando com o Alex, ajudando a convencê-lo a vir para o
Cruzeiro, negociando de alguma forma, eu estou à disposição para ajudar,
tenho relação boa com o Alex. Mas como investidor não, esse papel não
me cabe, não quero entrar no clube como investidor para levar qualquer
tipo de vantagem. A diretoria está fazendo todo o esforço para trazer o
Alex. Estou acompanhando como torcedor, mas se precisar, posso ajudar. É
o grande sonho da torcida e o meu também.
Você acredita em um time competitivo em 2013 com esse modelo de gestão da atual diretoria?
Estou torcendo muito para que o Cruzeiro saia desta situação incômoda, eu confio na diretoria, ela está iniciando um trabalho e eu confio. Tenho certeza que esta situação incômoda é transitória, o Cruzeiro vai sair disso. Eles estão começando um trabalho que nós temos que respeitar. Como não estou participando da parte diretiva, eu prefiro ficar como torcedor, acompanhando à distância. Não tenho ido ao estádio exatamente porque não quero interferir. Se eu começar a ir, a minha sombra pode tirar a tranquilidade da diretoria para trabalhar e isso pode atrapalhar. Eu ajudei a eleger esta diretoria e confio nela, temos que ter paciência, pois o projeto de reformulação está só no início.
Muitos disseram, inclusive o novo presidente, que as dificuldades este ano são resultado da sua gestão, que deixou o clube de cofres vazios. Como você avalia essa situação?
Eu queria vender o Montillo no
fim da minha gestão, mas deixei o comando nas mãos do Gilvan e ele
preferiu não vender. Ele apostou no projeto de sócio-torcedor em cima do
Montillo e infelizmente a torcida não correspondeu ao projeto. O
torcedor tinha que ter consciência que tinha que contribuir mais. O
Gilvan segurou o Montillo em cima de um projeto de sócio-torcedor e que o
torcedor deveria ter dado um voto de confiança e o torcedor falhou com
ele. Mesmo sem o mando de campo, o torcedor podia fazer uma graça agora.
É na dificuldade que o torcedor tem que ajudar, ainda mais que o Gilvan
segurou o Montillo por eles. Eu faço a minha parte. Sou sócio do
futebol, da modalidade de R$120, igual à do Adílson Batista (risos).
Mas o desmanche do time no último ano da sua gestão também contribuiu para uma temporada difícil em 2012, do ponto de vista técnico. Vários jogadores foram vendidos no meio do ano e o Cruzeiro perdeu a base que tinha...
O
Dudu eu não considero porque era reserva, quase não jogava. Se eu não
tivesse vendido Thiago Ribeiro, Henrique e Gil, a situação econômica do
Cruzeiro seria catastrófica. Sempre vendi para pagar dívida. O Cruzeiro
recebe R$ 40 milhões a menos do que Flamengo, São Paulo, Corinthians.
Todos os clubes do Brasil que tiveram sucesso até hoje foram clubes
vendedores, Internacional, São Paulo... o Corinthians foi o clube que
mais vendeu ano passado e foi campeão da Libertadores. Eu sempre vendi,
isso nunca foi empecilho técnico.
Mas o rival Atlético, por exemplo, recebe o mesmo que o Cruzeiro de patrocínios e cotas de TV e montou time para disputar o título brasileiro. Por que o Cruzeiro não conseguiu o mesmo?
Aí você tem que perguntar para alguém
do Atlético como eles fizeram, só sei que eles têm uma dívida muito
maior que o Cruzeiro. Como eles estão fazendo eu não sei, deve haver
algum investidor, não sei como eles administram, eu nunca administrei o
Atlético. Mas eles também mudaram a política e passaram a ser clube
vendedor, venderam o Tardelli, o Diego Souza, talvez por isso passaram a
ter sucesso, depois que viraram clube vendedor.
Venderam, mas também investiram para contratar, enquanto o Cruzeiro não colocou dinheiro em suas contratações, não é?
Mas
eu também sempre vendi e sempre comprei. No início do ano o São Paulo
ofereceu 10 milhões de euros pelo Montillo mais quatro jogadores à
escolha e a diretoria não quis vender, fazer o quê? Dava para montar um
ótimo time. Não estou criticando, cada um age do jeito que entende, mas
eu ganhei 23 títulos sendo o maior vendedor do Brasil. Não estou
criticando, cada um tem uma maneira de administrar, o que eu te digo é:
se tivesse vendido o Montillo, a situação financeira estava
estabilizada. Eu nunca falei que o Cruzeiro era um clube rico, era um
clube estável porque era vendedor.
Você acha que depois da experiência negativa de 2012 o Gilvan mudará seu modelo de gestão?
A
situação do Montillo eu tenho certeza que foi uma coisa atípica. O
Gilvan tinha feito um compromisso com a torcida de não vender. Tenho
certeza que se fosse agora aquele negócio, a posição dele seria outra.
Ele sabe que clube nenhum suporta ficar sem ter uma receita melhor,
principalmente aqui em Minas, ele já aprendeu isso, não dá para
sobreviver. Hoje ele tem essa visão. É muita pressão que um presidente
do Cruzeiro suporta, tenho maior respeito e entendo o sofrimento do
Gilvan, sou absolutamente solidário a ele, porque eu sei o sofrimento
que ele está passando, passei por isso 17 anos. Torço demais por ele,
tudo o que ele está passando hoje eu já passei. Então eu torço demais
por ele.
Essa pressão já se transformou em ameaça alguma vez por parte da torcida?
Ameaça
de fato não. A torcida sempre me respeitou, apesar dos protestos e
agressões verbais, nunca recebi uma ameaça de verdade. O que me machucou
foi no jogo dos 6 a 1, que eu tive que ouvir “Zezé Perrella, vai se
f... o meu Cruzeiro não precisa de você” (risos). Aquilo doeu um pouco,
foi um dos motivos que me fez acreditar que jamais vou voltar. Sou muito
grato à torcida do Cruzeiro, claro, mas aquele grito da torcida aquele
dia me fez refletir muito.
Agora como torcedor do Cruzeiro, você teme ainda que o Atlético seja campeão brasileiro?
Não
existe risco nenhum de o Atlético ser campeão brasileiro. Já não
existia antes, nunca acreditei, embora o time deles estivesse bom. Mas a
responsabilidade de ser campeão pesou no segundo turno. Já era. O fato
de não ganhar nada há 41 anos pesou demais no segundo turno, eles não
suportaram. Deve ser difícil demais não ganhar nada há tanto tempo, é
muita pressão.
Mas assistir ao Atlético na Libertadores 2013 e ver o Cruzeiro fora não te incomoda?
Não
tenho preocupação nenhuma com eles na Libertadores, eles não estão
acostumados, só disputaram quatro vezes na história. Nós já disputamos
13, chegamos a quatro finais, temos camisa, tradição, eles não têm isso.
Então não estou preocupado. Para eles já é tão difícil chegar para
disputar, imagina ganhar? (Risos).
COMENTÁRIO DO BLOG SOBRE A NOTÍCIA
A forma de Zezé Perrella gerenciar o Cruzeiro está mais que ultrapassada. Ele nunca enxergou o Marketing como uma válvula de escape do clube nem quis fazer da torcida o maior cliente. SEmpre pensou da mesma forma. Há 20 anos, era uma forma ideal, pois o Marketing Esportivo engatinhava. Hoje é diferente. Em São Paulo há "um bando de loucos" por um time. No Rio Grande do Sul, há os torcedores imortais. Em Belo Horizonte, bem, a situação está a mesma. Não mudou muito. O Cruzeiro não vende, mas também não investe. Se olhasse para o torcedor como investidor, as coisas seriam diferentes e, talvez, estivéssemos como Inter e São Paulo, que vendem, mas sempre têm um time de qualidade. E não fazem desmanche, como fazia o senhor Zezé. E ao contrário, investem, sem precisar de doações de investidores. Eles, ao contrário do que fez Zezé, não ficam na mão de empresários atleticanos, como ficou o Cruzeiro quando vendeu Henrique, Gil e Thiago Ribeiro. O Cruzeiro era um time de marionete, não andava com as próprias pernas e via o investidor manipular o time como e quando queria. Vamos ver se em 2013 as coisas mudam. Que venham jovens jogadores, bons jogadores, com maior parte sendo nossa. Venha Alex também!
COMENTÁRIO DO BLOG SOBRE A NOTÍCIA
A forma de Zezé Perrella gerenciar o Cruzeiro está mais que ultrapassada. Ele nunca enxergou o Marketing como uma válvula de escape do clube nem quis fazer da torcida o maior cliente. SEmpre pensou da mesma forma. Há 20 anos, era uma forma ideal, pois o Marketing Esportivo engatinhava. Hoje é diferente. Em São Paulo há "um bando de loucos" por um time. No Rio Grande do Sul, há os torcedores imortais. Em Belo Horizonte, bem, a situação está a mesma. Não mudou muito. O Cruzeiro não vende, mas também não investe. Se olhasse para o torcedor como investidor, as coisas seriam diferentes e, talvez, estivéssemos como Inter e São Paulo, que vendem, mas sempre têm um time de qualidade. E não fazem desmanche, como fazia o senhor Zezé. E ao contrário, investem, sem precisar de doações de investidores. Eles, ao contrário do que fez Zezé, não ficam na mão de empresários atleticanos, como ficou o Cruzeiro quando vendeu Henrique, Gil e Thiago Ribeiro. O Cruzeiro era um time de marionete, não andava com as próprias pernas e via o investidor manipular o time como e quando queria. Vamos ver se em 2013 as coisas mudam. Que venham jovens jogadores, bons jogadores, com maior parte sendo nossa. Venha Alex também!
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