quinta-feira, 26 de setembro de 2013

DISCURSO RUIM, MAS NOVO, PARA PROBLEMA COMPLICADO E VELHO

POR: JOÃO VITOR VIANA
 
Que o calendário brasileiro é uma afronta ao bom futebol e um ultraje que permite lesões mais frequentes em atletas, disso não há dúvidas. Contudo, um discurso maquiado vem sendo levado à imprensa. Tanto por parte dos jogadores, que têm razão na maioria do que pleiteam, quando dos enraizados administradores do futebol e da televisão, que continuam a ter uma visão tacanha do que realmente seja razoável.
 
Mente aquele que diz que na Europa se joga 60 partidas por ano. Talvez um time que não dispute nada. Aquele que entra para participar, para ser "um Coritiba da vez", esse joga sim, 60, 65 jogos. Um Milan, um Real Madrid, um Barcelona, jogam de 70 a 80 partidas no ano. Mas o calendário de lá permite. E olha que nos primeiros três meses da temporada, poucos são os jogos, com um ou outro confronto importante, que são as disputas das Supercopas. No mais, são jogos que se iniciam, a longo prazo, seguindo uma cronologia de décadas. Lá, por exemplo, são se admite disputar uma Copa Europa (ex-UEFA) no mesmo ano de uma Champions League. Uma dá acesso à outra. Logo são disputadas ao mesmo tempo, em igual período. No Brasil e na América do Sul exige-se que sejam disputadas duas competiçõe internacionais por ano, uma em cada semestre, o que já é uma entrave aos clubes.
 
Na Europa, os campeonatos basicamente são disputados em nove meses, com paralizações, com cessão de jogador às seleções sem problemas de serem desfalcados, pois os campeonatos paralizam, há critérios diferentes e não permitem mais de dois jogos na semana. 60 jogos em nove meses é muito jogo. Na mesma intensidade do que há por aqui. Mas há organização. No Brasil, rasga-se constituições, leis, decretos, e põe o interesse econômico acima de tudo. Com discursos ultrapassados, cartolas e empresários forçam uma barra, que é, agora, rebatida, mas também com alegações não tão fundamentadas. Todo ano o calendário sofre alteração e ficam na dependência de velhinhos ultrapassados, de mentes esclerosadas, para se moverem, se planejarem. E o pior: são reféns do poder econômico da televisão, que se quiser pôr jogos às segundas pela manhã, os clubes serão obrigados a aceitar, mesmo que tenham jogado no domingo à noite.
 
Que se exija um calendário sóbrio, espelhado no que é feito, há décadas no antigo continente, onde não há torneios regionais, diga-se de passagem. Os campeonatos, com uma ou outra exceção, têm data de início e término, sempre ou quase sempre na mesma data, o que permite aos clubes se programarem, se planejarem e saber o que irão fazer na temporada.
 
No Brasil, Santos e São Paulo cismaram de viajar para a Europa e Japão. Depois choram, dizendo que o calendário é o culpado. O que esses times foram fazer lá fora? Pegar alguns euros? Pela vergonha que passaram, era melhor ter pagado a embolsar esse dinheiro. Outros jogadores, acostumados a lesões, culpam os calendários, mas eles próprios não reconhecem que são limitados fisicamente, que têm propensão às lesões.
 
No mundo do cinismo, da mentira, da corrupção, as ideias são jogadas e pouco debatidas. Mentiras viram verdades e os que não são sábios acabam aceitando um paradigma ineficaz, caído e ultrapassado. Chegou a hora, sim, de um diálogo. Franco e aberto. Mas com posturas, de ambos os lados de pessoas que sabem o que estão falando. Pelo que vejo, até o momento, é apenas troca de farpas, discursos prontos de um lado e engessado de outro. Se dirigente acha que não é possível ficar três meses sem ter campeonato, ele precisa, no mínimo, ir à Europa e ver que por lá há excursões, há torneios amistosos, há campeonatos locais patrocinados e há sócios, o que, no Brasil, ainda engatinha.

2 comentários:

Cachaça disse...

Enquanto houver campeonato estadual que só serve pra cabide de emprego na FMF, dentre outras, não dá nem pra começar a conversar.

Cachaça disse...

Enquanto houver campeonato estadual, não dá pra conversar. Só servem como cabide de emprego. Baixíssimo nível técnico e sem relevância para o público.