O Cruzeiro fez 19 contratações em 2013, entre elas Dedé, Júlio Baptista, Éverton Ribeiro, Willian e Dagoberto. Por trás das negociações celestes, Alexandre Mattos, diretor de futebol do clube, se mostra uma das figuras mais fortes da diretoria estrelada. O dirigente, que foi apelidado de Alexandre Mittos pela torcida, revelou à reportagem do GLOBOESPORTE como começou sua carreira dentro do futebol e como chegou até o Cruzeiro. O dirigente entrou em detalhes de como funciona o processo de contratação de jogadores dentro do clube celeste e ponderou se considera mais importante o dinheiro ou lábia na hora de uma negociação. Mattos ainda falou sobre o preço do atual elenco celeste e qual foi a contração mais difícil neste um ano e meio como funcionário do Cruzeiro.
BOM PAPO VS. DINHEIRO
Na hora de bater o martelo para contratar um jogador, o que conta mais, a lábia do dirigente ou o dinheiro no bolso? Alexandre Mattos acredita que é preciso uma mistura dos dois artifícios. Ele explica que, do atual elenco do Cruzeiro, muitos jogadores foram contratados sem custo financeiro, mas com muita argumentação. No entanto, Mattos garante que, no mercado atual do futebol, muitas vezes, é preciso se sobressair com o dinheiro.
- Você tem que usar suas armas. É uma negociação. A gente faz acontecer com dinheiro, com dificuldade financeira, com bom papo. É um processo, tem que mostrar um projeto. A parte financeira é fundamental em uma negociação, mas muitas vezes você tem que criar algumas situações de criatividade. O Cruzeiro contratou alguns jogadores sem gastar. O caso do Lucca, por exemplo. Foram situações que os argumentos prevaleceram. Em outras o Cruzeiro teve que se impor como clube grande, que tem um orçamento perto de 200 milhões de reais por ano. Isso depende da negociação, mas o equilíbrio é o fundamental.
ELENCO DE R$ 40 MILHÕES
Quanto custa formar um time de futebol? Para o Cruzeiro não custou muito. Alexandre Mattos revela que o elenco campeão brasileiro custou aos cofres do clube cerca de R$ 40 milhões. O valor é baixo se comparado ao maior rival da Raposa, o Atlético-MG. O Galo gastou cerca de R$ 140 milhões para montar o time que conquistou a Libertadores. Para se ter uma noção do bom investimento feito pela diretoria estrelada, o Cruzeiro recusou , em julho, uma oferta de 8 milhões de euros (cerca de R$ 30 milhões de reais, na época) por 60% dos diretos de Éverton Ribeiro. O valor já pagaria boa parte do investimento feito pelo clube para toda a temporada.
- O Cruzeiro em 2013 gastou algo em torno de 40 milhões de reais. Esse valor do início da temporada até a nossa última contratação.
CONTRATAÇÃO MAIS DIFÍCIL NO CRUZEIRO
Em pouco mais de um ano à frente da diretoria do Cruzeiro, Alexandre Mattos contratou mais de 20 reforços para o clube. O dirigente explicou que não há negociação fácil e que teve dificuldade para trazer inúmeros jogadores, como Dagoberto e Tinga, que vieram do Internacional. Lucca, que veio do Criciúma, e tinha interesse de outros clubes grandes como o São Paulo. A transação de Júlio Baptista, que, por se tratar de uma negociação internacional, exigiu muita paciência e conversar com as partes envolvidas.
No entanto, Alexandre Mattos elegeu a contratação do zagueiro Dedé como a mais difícil. O jogador foi a contratação mais cara da história do clube (chegou por 6,5 milhões de dólares, cerca de R$ 13 milhões, na época).
- Todas tem seu modo de ser. O Cruzeiro conseguiu algumas vitórias interessantes. Talvez uma que deu um pouco mais de trabalho foi a do Dedé, por exemplo, que demorou doze dias. Eu fui para ficar um dia e fiquei muito mais. Teve problema na justiça. É um jogador que gigantes europeus tentaram. Foi uma negociação que envolveu dois investidores, tinha um lado emocional do Vasco, que não queria perder seu grande ídolo. Tinha o lado do Dedé, que não foi para outras equipes porque queria ficar perto da família. Empresário, jogador, clube e família, é uma série de conjuntos que dificultam e você tem que saber harmonizar todos.
CARREIRA PLANEJADA
Alexandre Mattos começou no futebol em 2005, depois de se formar em administração, com gestão em esportes. O dirigente já havia se graduado em educação física e foi o encontro com Antônio Baltazar, ex-presidente do América-MG, que deu o pontapé inicial na carreira. O dirigente deu o voto de confiança à Alexandre, que tinha 27 anos quando começou como assessor de Baltazar. Mattos fazia também algumas funções do departamento de futebol e, depois de um ano e meio, em meados de 2006, foi efetivado como diretor de futebol do América-MG.
Ficou até 2011 na função. Foram sete anos de Coelho. Neste período o clube trocou seu conselho gestor, saiu Antônio Baltazar e entrou Marcus Salum. O América-MG passou por maus e bons momentos. Caiu para a segunda divisão do mineiro, mas também conseguiu o acesso para o Série A do Campeonato Brasileiro. Foi neste ano, em 2011, quando o alviverde sofreu o descenso novamente para o segunda divisão do Brasileiro, Mattos resolver deixar o América-MG.
- Eu já enxergava o papel no clube como encerrado. Eu queria bater asas e buscar novos ares. Para muitos foi até uma insanidade, para outros foi coragem. Pedi demissão e saí, fiquei uns três meses esperando uma proposta.
No início de 2012, o Cruzeiro começou uma nova gestão. Depois de mais de uma década de alternância dos Perrellas no comando da diretoria celeste, Gilvan de Pinho Tavares assumiu a presidência. Dimas Fonseca foi nomeado o diretor de futebol, mas falta de experiência no cargo e contratações desencontradas fizeram o mandatário estrelado buscar Alexandre Mattos.
RICARDO GOULART: CHAPÉU NO GALO?
No final da última temporada, Cruzeiro e Atlético-MG disputaram a contratação de Ricardo Goulart. Alexandre Mattos explicou que quando o Atlético-MG manifestou interesse no jogador, que ainda estava no Goiás, o Cruzeiro já havia acertado tudo com o jogador e seu empresário. O dirigente cruzeirense não considera a contratação do meia como um chapéu, mas garante que essa disputa entre os times é normal.
- Clubes grandes buscam atletas de ponta. Não tem que ficar se vangloriando e colocando como um chapéu. Porque isso é corriqueiro. Ficou mais evidente este caso do Goulart, porque foi falado antes que o jogador iria para o Atlético-MG, para o Fluminense, São Paulo e o Cruzeiro já tinha acertado com o atleta há um bom tempo. O presidente, inclusive, me perguntou, quando eles estava sendo anunciado por outro time, e eu falei que ele poderia ficar tranquilo que o jogador era do Cruzeiro. Com um detalhe, jamais o Cruzeiro mudou uma vírgula do que tinha combinado com Ricardo lá atrás, porque A, B ou C manifestaram vontade de contratar ele. O Cruzeiro não praticou leilão. O Cruzeiro acertou com Ricardo, conversando com as pessoas proprietárias deles, bem antes do final do ano.
“ALEXANDRE MITTOS”
A torcida do Cruzeiro criou uma grande identificação com o diretor de futebol do clube. Os cruzeirenses passaram a chamar o dirigente de “Alexandre Mittos”, por causa das boas contratações. A contratação de Dedé, que ganhou o apelido de Mito, no Vasco, ajudou na boa relação de Alexandre com os torcedores celestes. Humilde, Alexandre explica que o verdadeiro mito do Cruzeiro é o presidente Gilvan de Pinho Tavares, que se cercou de profissionais especializados para planejar o futuro do clube.
- Vem muito da época do Dedé (o apelido). O grande Mito é o Dedé, ele vem mostrando isso no dia a dia, jogando. É um carinho a mais. Um reconhecimento. Mas o mito do Cruzeiro é o presidente, este tem que ser valorizado ficar na história do clube.
Alexandre Mattos não esconde o contentamento pelo carinho da torcida azul, mas garante que isso não o acomoda. Ele acredita que o apoio dos cruzeirenses motiva mais para dar continuidade ao bom trabalho, culminando em títulos.
- Dizer um obrigado aos torcedores, agradecer a confiança e isso só motiva mais. A gente sabe que isso atrai mais responsabilidade. Esse título, não tenha dúvida, se ele realmente vier, porque ainda falta muito, é um presente para cada um dos torcedores.
COMO É O PROCESSO DE CONTRATAÇÃO NO CRUZEIRO?
O torcedor tem curiosidade de saber como funciona o processo de contratação dentro de um grande clube. Quem indica o jogador? Quem dá o aval? Quem faz o contato direto com o atleta com o empresário? Alexandre Mattos explica que no Cruzeiro este processo é orgânico. A diretoria e a comissão técnica participam ativamente. O treinador Marcelo Oliveira tem papel importante na formação do elenco, mas o dirigente revela que grande parte das contratações para 2013 foram arquitetas antes mesmo da chegada do técnico.
Alexandre Mattos e Gilvan de Pinho Tavares (Foto: Tarciso Neto / Globoesporte.com)
- Hoje o Cruzeiro é uma unidade. Muitas vezes o Marcelo indica, nós concordamos e tentamos buscar. Outras vezes não. Muitas vezes nós indicamos. Alguns jogadores já estavam contratados antes da chegada do Marcelo. Outros jogadores vieram posteriormente, em um consenso. Uns indicados pelo treinador, outros pela direção. O presidente sempre pede que tenhamos o cuidado de trazer grandes jogadores, de alto nível, porque aqui é Cruzeiro. Hoje todo profissional da bola quer trabalhar no Cruzeiro, pela estrutura, e tudo que o clube pode oferecer. O Cruzeiro estava esquecido nisto e retomou o seu papel.
Alexandre Mattos explicou que, na hora de fechar o negócio, é importante o contato cara a cara. Na contratação de Júlio Baptista, o dirigente foi até a Espanha para acompanhar de perto os detalhes da rescisão do jogador com Málaga.
- Eu procuro sempre resolver pessoalmente. Como foi em várias situações, como o Júlio Baptista, o Dedé. O mundo hoje é networking, contato. Depois de dez anos como diretor de futebol, os contatos a gente vem fazendo trabalho sério honesto e a gente vê o mercado recebendo bem o profissional do diretor de futebol e o próprio clube.
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