Soa estranho.
Pode ser até mesmo exagerado, e os membros do departamento médico admitem que
sim, mas parte da campanha que pode consagrar o clube novamente campeão nacional
em caso de vitória sobre o Grêmio neste domingo, no Mineirão, e derrota do
Atlético-PR para o São Paulo passa pela iniciativa pioneira de mapear
geneticamente todos os seus atletas.
O procedimento ainda não é comum no País e foi utilizado pelo Corinthians com
Alexandre Pato no início da temporada como forma de precaver lesões. O Palmeiras
também cogitou fazer o mesmo com Valdivia.
Num calendário que permite aos times realizarem em média apenas um treino
físico a cada dez dias, alguns clubes já cogitam organizar seus planejamentos
para essa direção. Na Toca da Raposa II, os treinos foram todos eles modificados
de acordo com as características de cada atleta.
"O levantamento do perfil genético dos jogadores não tem o objetivo de
selecionar ninguém", esclarece o fisiologista cruzeirense Eduardo Pimenta ao site da
ESPN. "Não podemos definir em função disso se
contratá-los ou não. É crime. O último que fez isso foi o bigodinho da Alemanha
(o ditador Adolf Hitler) e quem trabalha com genética não aceita esse tipo de
postura", prossegue.
"O DNA traz informações que nos permitem fazer ajustes de treino, nutrição e
conhecer melhor os recursos físicos de cada um. As condutas são elaboradas
dentro da realidade genética. Temos um gene que codifica a proteína no músculo e
deixa o indivíduo um pouco mais tolerante a treinos e jogos. No entanto, em
função de alteração genética, alguns deixam de produzir essas proteínas. Então,
eles sofrem mudanças de treinos, nutrição e quantidade de carga aplicada",
completa.
O resultado é refletido diretamente nos resultados. No mês de setembro,
considerado o mais complicado no futebol brasileiro, o Cruzeiro teve apenas a
lesão do meia Julio Baptista - com o atenuante, ainda assim, de que se tratava
de um nome que voltava da Europa.
Em geral, a média de lesões por atleta no segundo semestre no Brasil é de
1.7. O Cruzeiro acumula até aqui a marca de 0.4 (Bruno Rodrigo também se
contundiu).
O procedimento feito a cada início de temporada a partir da raspagem da
mucosa da boca e o estudo de oito genes é adotado pela equipe mineira desde
2009. A princípio, com as categorias de base e depois inserido no
profissional.
Ele foi trazido do período de doutorado na Espanha de Eduardo Pimenta após
contatos com o departamento médico do Real Madrid, na época interessado em
descobrir mais detalhes a respeito dos brasileiros de seu elenco e esbarrando na
falta de estudo do outro lado do Atlântico. O fisiologista celeste, então,
ingressou num grupo de estudo local.
Mas todo esse trabalho só é possível também por causa da aceitação do método
pela comissão técnica cruzeirense. Nem sempre foi assim. Com Marcelo Oliveira,
existe a liberdade para sugerir a carga de aproveitamento de um atleta no treino
e a sua melhor utilização no gramado.
"O novo assusta no futebol. Então, isso é verdade. O futebol tende ao
continuísmo. Em nossa experiência interna, conseguimos passo a passo a confiança
de alguns. Não é um tecnologia totalmente difundida, por isso, apresentamos a
proposta. Se acatarem, excelente, caso contrário, tudo bem", afirma Eduardo
Pimenta.
Não é por acaso que o Cruzeiro voa em campo.
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